Marcos Losekann / Heloísa Torres
Jornal da Globo
Brasília, DF
Em mais um áudio da série
gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, agora delator premiado
da Operação Lava Jato, o ex-presidente da República José Sarney reclama do que
considera uma "ditadura da Justiça". Com aliados como Sérgio Machado,
o PMDB não precisa de inimigos, como explica o repórter Marcos Losekann, direto
de Brasília.
De fato, o ex-senador e
ex-presidente da Transpetro, acusado de desviar dinheiro da Petrobras para o
bolso de políticos, se transformou em uma pedra no sapato de muita gente graúda
na política. Sobretudo parte da cúpula do PMDB, de quem o Sérgio Machado foi de
melhor amigo a maior traidor.
Isso aconteceu depois que ele
montou um esquema para gravar a conversa dele com alguns dos caciques do PMDB,
atraindo os interlocutores para uma conversa pra lá de comprometedora.
Mais um capítulo da crise
política que parece não ter fim, crise que esquentou ainda mais alguns graus,
com a revelação de novos trechos dessas conversas capciosamente indiscretas.
Nesses diálogos, a tentativa de livrar políticos da Lava Jato. Confira todos os
detalhes no vídeo com a reportagem de Heloísa Torres.
Sérgio Machado vem tirando o
sossego de políticos. Com um gravador escondido, registrou articulações para
tentar barrar as investigações. Isso em reuniões em Brasília, na casa do presidente
do Senado, Renan Calheiros, e na casa do ex-presidente da República José
Sarney.
Machado foi senador e presidente
da Transpetro, que contratou empresas que, por sua vez, apoiaram o PMDB com
dinheiro. Ele disse que foi atrás da cúpula do partido porque tinha medo de ser
preso e do que viria nas próximas delações.
Em um encontro com Renan,
investigado na Lava Jato, os dois xingam Rodrigo Janot, o procurador-geral da
República.
Machado: Agora esse Janot, Renan, é o maior mau caráter da
face da Terra.
Renan: Mau caráter! Mau caráter! E faz tudo que essa
força-tarefa (Lava Jato) quer.
Machado: É, ele não manda. E ele é mau caráter. E ele quer
sair como herói. E tem que se encontrar uma fórmula de dar um chega pra lá
nessa negociação ampla para poder segurar esse pessoal (Lava Jato). Eles estão
se achando o dono do mundo.
Renan:Dono do mundo.
Renan Calheiros disse, por meio
de nota, que nunca tomou qualquer iniciativa para dificultar a Lava Jato. O
presidente do Senado disse ainda que a indicação de Sérgio Machado para a
Transpetro foi uma iniciativa da bancada do PMDB e não dele pessoalmente.
Em fevereiro e março deste ano,
Sérgio Machado se encontrou com o ex-presidente Sarney e também gravou as
conversas.
Machado: Meu presidente, que saudade.
Sarney: Como tá você?
Os dois falam sobre a situação
da presidente Dilma Rousseff, que ainda não tinha sido afastada.
Machado: A Dilma não tem condição. Nesse caso do
marqueteiro, ela não teve um gesto de solidariedade com o cara. Ela não tem
solidariedade com ninguém não, presidente.
Sarney: E, nesse caso, ao que eu sei, é o único que ela tá
envolvida diretamente.
A presidente afastada, Dilma
Rousseff, disse que todos os pagamentos feitos ao publicitário João Santana
foram regulares e contabilizados na prestação de contas apresentadas á Justiça
Eleitoral, e que a tentativa de envolver seu nome em situações que nunca participou
são escusas e demonstram interesses inconfessáveis
A conversa continua com
especulações sobre quem venceria uma eventual eleição. Eles dizem que no final
quem vai assumir a presidência será Eduardo Cunha mostrando que os dois não
tinham ideia do que estava prestes a ocorrer na política. Cunha caiu antes
mesmo de Dilma ser afastada com o processo de impeachment.
Machado: Saindo o Michel e aí como é que fica? Quem assume?
Sarney: Eleição. E vai ter muito, um Joaquim Barbosa desses
da vida.
Machado: Ou um Moro... o Aécio pensa que vai ser ele, não
vai ser não.
Sarney: Não, não vai ser ele, de jeito nenhum!
Machado: E quem que assume a presidência, se não tem
ninguém?
Sarney: O Eduardo Cunha.
Machado: E ele não vai abrir mão de assumir, não.
Sarney: Não... no Supremo não tem. Não tem ninguém que tenha
competência para tirá-lo. Só se cassarem o mandato dele. Fora daí não tem. Como
é que o Supremo vai tirar o presidente da casa?
Em outro trecho, Sarney e
Machado reclamam que Dilma insiste em permanecer no governo diante da crise
política e econômica. O ex-presidente Sarney diz que não só empresário e
políticos devem pagar pelos mal feitos na Petrobras, mas o governo também.
Sarney :Ela não sai. (...) Resiste...diz que até a última
bala.
Machado: Não tem rabo, não tem nada.
Sarney: Acha que não tem rabo. Tudo isso foi... é o governo,
meu Deus! Esse negócio da Petrobras são os empresários que vão pagar, os
políticos! E o governo que fez isso tudo?
Machado: Acabou o Lula, presidente.
Sarney: O Lula acabou. O Lula, coitado, ele está em uma
depressão tão grande.
Machado: O Lula. E não houve nenhuma solidariedade da parte
dela.
A conversa continua. Eles
reclamam que ninguém se manifesta contra as decisões de Sérgio Moro. Criticam
as decisões da Justiça que estão combatendo a corrupção. Classificam a situação
como uma ditadura da Justiça.
Machado: Não teve um jurista que se manifestasse e a mídia
está parcial assim. Eu nunca vi uma coisa tão parcial. Gente, eu vivi a
revolução (...) não tinha esse terror que tem hoje, não. A ditatura da toga tá
f***.
Sarney: A ditadura da
Justiça tá implantada, é a pior de todas!
Machado: E eles vão querer tomar o poder. Para poder acabar
o trabalho.
O juiz Sérgio Moro não quis se
manifestar
O Instituto Lula declarou que
quem tem de explicar essas notícias são os que o instituto chama de
"beneficiários da aliança entre os partidos golpistas e os setores mais
corruptos da política brasileira". O instituto afirma que foram eles que
afastaram a dilma rousseff, com o objetivo, segundo o instituto, de controlar
as instituições, barrar a operação lava jato e restabelecer a impunidade.
José Sarney também por meio de
nota disse que conhece Sérgio Machado há muitos anos. Eles foram colegas no
Senado e que sempre tiveram uma relação de amizade e que as conversas que teve
com ele foram marcadas pelo sentimento de solidariedade.
Sérgio Machado ainda não é
investigado formalmente no Supremo, mas o procurador-geral da República pediu a
inclusão do nome dele no principal inquérito da Lava Jato. Ele também foi citado
por pelo menos três delatores.
Ele fez a delação premiada para
possível redução de pena em caso de condenação. E, agora, com essa nova delação
o procurador Rodrigo Janot, pode pedir a abertura de inquéritos, incluir provas
nas investigações já abertas ou mandar as citações de pessoas sem foro para o
juiz Sérgio Moro, em Curitiba, de quem Sérgio Machado queria se livrar.
Confira reportagens sobre as gravações que indicam ação de Renan e Sarney para interferir na Lava Jato.
Confira reportagens sobre as gravações que indicam ação de Renan e Sarney para interferir na Lava Jato.
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