"Muitas vezes eles pediram que eu renunciasse porque, se eu renunciar, se esconde para debaixo do tapete esse impeachment sem base legal. É extremamente confortável para os golpistas que a vítima desapareça, que a injustiça não seja visível. A injustiça vai continuar visível", afirmou a presidente.
Confira a íntegra do discurso da presidente Dilma
MARINA DIAS
EDUARDO CUCOLO
FOLHA DE S. PAULO/DE BRASÍLIA
A presidente Dilma Rousseff
aproveitou seu discurso nesta terça-feira (3) em evento no Palácio do Planalto
para dizer que não vai renunciar ao cargo, que é "vítima de uma
fraude" e que a democracia brasileira "sofre um assalto" com o
processo de impeachment que tramita contra seu mandato.
Segundo Dilma, renunciar à
Presidência da República seria uma forma de a "vítima desaparecer" e
"esconder" a "injustiça" pela qual a petista acredita estar
passando.
"Muitas vezes eles pediram
que eu renunciasse porque, se eu renunciar, se esconde para debaixo do tapete
esse impeachment sem base legal. É extremamente confortável para os golpistas
que a vítima desapareça, que a injustiça não seja visível. A injustiça vai
continuar visível", afirmou a presidente. "Estamos fazendo história
porque a democracia é, sem sombra de dúvidas, o lado certo da história",
completou.
A fala de cerca de meia hora
durante cerimônia de lançamento do Plano Safra de Agricultura Familiar foi uma
espécie de resposta aos rumores de que Dilma poderia enviar nos próximos dias
ao Congresso uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que estabelece novas
eleições em outubro. Para isso, a presidente poderia renunciar ao cargo e pedir
ao vice-presidente Michel Temer (PMDB) que fizesse o mesmo.
A discussão sobre convocar ou
não novas eleições foi feita por Dilma e por seu núcleo político mais próximo.
Ministros como José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União), Ricardo
Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da
Presidência) são entusiastas da ideia, que sofre resistência em setores do PT e
entre dirigentes de movimentos sociais e da base do partido que veem no gesto
um "ato de derrotado".
Segundo a Folha apurou, o discurso
de Dilma tinha o objetivo de passar a ideia de que ela "não está
desistindo". Auxiliares do Planalto, porém, ponderam que ela ainda pode
enviar a PEC ao Congresso –antes de o plenário do Senado votar a
admissibilidade do impeachment, na próxima quarta-feira (11)– sem renunciar. O
problema é que Dilma e seus ministros sabem que não há votos entre os
parlamentares para aprovar a PEC, que precisa de 3/5 dos votos em votação em
dois turnos na Câmara e no Senado.
EXPLICAÇÕES
Pela primeira vez, a presidente
falou detalhadamente sobre alguns dos seis decretos que aumentaram as despesas
do Executivo sem autorização do Congresso, em 2015, e que estão na base do
pedido de impeachment.
"Esses decretos foram
feitos por uma demanda minha? Não. Não fui eu que pedi. Um deles, por exemplo,
é do Tribunal Superior Eleitoral", afirmou.
Segundo Dilma o TSE contava com
uma receita de inscrições em concurso público superior à estimada inicialmente.
Por isso, pediu ao Executivo que o dinheiro fosse destinado a cobrir outras
despesas do Tribunal, entre elas, outro concurso.
A presidente afirmou ainda que
outro decreto visava destinar dinheiro de doações para hospitais universitários
federais ligados ao Ministério da Educação.
"Nós cometemos crime
porque, segundo eles, não podíamos ter posto isso nos hospitais. A gente tinha
de cumprir a meta. Já tínhamos feito o maior corte orçamentário que esse país
viveu e ainda por cima tinha de fazer isso, botar na meta?", afirmou.
Segundo a presidente, os
deputados não votaram contra os decretos durante a sessão na Câmara que aprovou
a abertura do impeachment, no domingo (17), e, caso fossem contrários a eles,
seriam contra "o dinheirinho para os hospitais, o TSE e o Plano
Safra".
Dilma classificou como "mentira"
a afirmação de que foi o Banco do Brasil que custeou o Plano Safra do ano
passado, devido ao atraso no repasse de recursos do Tesouro Nacional para a
instituição financeira emprestá-los.
"No caso do Plano Safra, é
pior. Não participei fisicamente do processo do qual me acusam, porque a lei
prevê que não é o presidente que repassa os recursos para o Banco do Brasil.
Sou acusada de algo que não é que eu não fiz, seques estive presente em
qualquer um dos atos."
Dilma comparou ainda o número de
decretos do ano passado com os editados pelos seu dois antecessores em seus
mandatos de oito anos, citando os 101 decretos do ex-presidente FHC.
Nenhum comentário:
Postar um comentário