Rádio Voz do Maranhão

sábado, 13 de agosto de 2016

Sarney Filho teria usado helicóptero alugado pelo governo Roseana, revela VEJA

 Documentos indicam que Sarney Filho usou dinheiro do contribuinte para não gastar do seu: um helicóptero pago pelo governo da irmã teria sido usado para transportá-lo na campanha
Por Kalleo Coura
Veja

Com a Lava Jato alçando os números da corrupção a patamares nunca vistos e revelando estratégias jamais sonhadas, o caso que se verá a seguir chega a parecer coisa de criança. Uma auditoria realizada pelo governo do Maranhão reuniu indícios de que o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho (PV) usou dinheiro do contribuinte para não ter de gastar do seu. Mais precisamente: viajou pelo estado em campanha eleitoral a bordo de um helicóptero custeado por dinheiro público, a pretexto de estar a serviço do governo. Dano para o Erário: 116.400 reais. Prejuízo para um país que sonha um dia livrar-se da política provinciana, delinquente e mesquinha: bem, aí é incalculável.

Segundo a auditoria, o ministro Sarney filho usou em 2014, junto com Adriano Sarney (PV), seu filho, um helicóptero contratado pelo governo do Maranhão, então sob o comando de Roseana Sarney para comparecer a eventos de campanha eleitoral – Sarney Filho buscava o nono mandato como deputado federal, Adriano Sarney debutava na disputa por uma vaga de deputado estadual.

O helicóptero foi contratado em novembro de 2013 pela Secretaria de Meio Ambiente com o objetivo de “atender às demandas” da pasta. Mas o primeiro voo só foi realizado em julho do ano seguinte, nove meses depois do início do contrato, durante a campanha eleitoral. Em 24 de julho, registros mostram que a aeronave decolou de São Luís para Tutóia, município de pouco mais de 50.000 habitantes a 350 quilômetros da capital maranhense, aonde só se chega depois de seis horas e meia de carro. No mesmo dia, o site mantido pelo deputado para documentar suas andanças durante a campanha destaca que ele esteve na mesma Tutóia. A coincidência de datas entre os eventos de campanha da família Sarney e os voos do helicóptero contratado com dinheiro público ocorreu outras dez vezes nos três meses seguintes. Em um dos casos, foram duas coincidências no mesmo dia: Sarney filho esteve pela manhã em Barreirinhas e à tarde em Pirapemas, a 300 quilômetros do primeiro compromisso. A aeronave fez nesse dia igual trajeto, como demonstram as notas fiscais dos voos. Durante o período em que permaneceu alugada pela Secretaria do meio Ambiente, ela realizou treze voos. Como em onze há indícios de que os principais passageiros foram os Sarney, é de desconfiar que a locação teve o único propósito de servir aos membros do clã que por cinco décadas exerceram o poder no Maranhão, estado que tem o segundo mais baixo IDH do Brasil, não avança no ranking desde 2000, apresenta o pior saneamento básico do Nordeste e registra a população mais pobre do país.

Sarney Filho entrou para a política aos 21 anos, em 1978, quando foi eleito deputado estadual. Desde então, não saiu mais. Em 1982, elegeu-se deputado federal pela primeira vez. Quando o pai estava prestes a deixar a Presidência da República, no início dos anos 90, chegou a almejar a condição de herdeiro político da família e ser candidato a governador, mas foi preterido por Roseana, sua irmã mais velha, que concorreu ao cargo quatro anos depois.

É a segunda vez que Sarney Filho ocupa o Ministério do Meio Ambiente. A primeira foi durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Deixou o cargo em 2002, depois que uma operação da Polícia Federal encontrou 1,34 milhão de reais em uma empresa de Roseana e seu marido, no episódio que enterrou a candidatura da primogênita pá Presidência da República e que foi atribuído a maquinações do PSDB. O tucano José Serra era candidato à sucessão de FHC.

A indicação de Sarney Filho para o governo Michel Temer teve o claro propósito de amolecer o coração de seu pai – junto com Renan Calheiros, ainda o nome mais influente no PMDB no Senado. A jogada não foi vã, como mostrou na semana passada o senador maranhense João Alberto Souza, que na votação da pronúncia do impeachment mudou de lado na última hora, traindo Dilma Rousseff e engrossando o placar dos 59 senadores que votaram pelo processo.

Procurado por VEJA, o ministro Sarney Filho negou que tenha utilizado o helicóptero alugado pelo governo da irmã e limitou-se a dizer que todos os seus gastos de campanha foram declarados à Justiça Eleitoral e aprovados. A Secretaria de Transparência e Controle do Maranhão vai dar seguimento à investigação.

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